A Selic deve permanecer em 15% ao ano e iniciar o ciclo de baixa apenas em março de 2026, afirmou o economista-chefe da XP, Caio Megale, durante o XP Credit Coverage, realizado no dia 5. Segundo ele, a combinação de juros elevados por mais tempo e indefinições sobre a corrida presidencial de 2026 tende a manter o país em “compasso de espera”.
Megale descreveu o próximo ano como “particularmente binário”, indicando que as decisões políticas poderão redirecionar as expectativas econômicas. Apesar das tensões domésticas, o economista avaliou que o ambiente internacional encerrou 2025 em situação melhor que o previsto: “Começou parecendo um caos — tarifas, recessão, guerra, estagflação — e estamos terminando com as bolsas nas máximas e sentimento otimista”.
O movimento de risk on nos emergentes, impulsionado por uma visão mais positiva para a economia global, foi destacado por Megale. Ele, porém, alertou para o risco fiscal nos Estados Unidos, citando a escolha do próximo presidente do Federal Reserve como ponto de atenção.
O head de análise política da XP, Paulo Gama, reforçou que o quadro eleitoral segue aberto. Para ele, pesquisas de popularidade serão determinantes: “As candidaturas de oposição ainda precisam se consolidar; a partir daí teremos uma visão mais clara dos caminhos possíveis”, disse.
No painel Crédito 360º, Carol Freitas, responsável pela relação com fundos, e Mayara Rodrigues, analista de renda fixa, apontaram crescimento do crédito privado e necessidade de diversificação diante dos recentes pedidos de recuperação judicial. “Nos dados até abril, micro e pequenas empresas lideram os pedidos”, observou Mayara. Carol acrescentou que o crédito “nunca foi tão relevante na carteira do cliente como hoje”, reflexo do amadurecimento do investidor brasileiro.
As especialistas veem oportunidade com a redução gradual dos spreads, abrindo espaço para alocações em high yield e debêntures incentivadas, que reagiram com força no segundo semestre. Entre as estratégias destacadas estão crédito high grade, high yield — que avançou exponencialmente nos últimos 12 meses — e crédito de liquidez. Debêntures incentivadas voltaram ao radar graças a mudanças regulatórias e incertezas setoriais.
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O último painel reuniu Pedro Bruno, head de transportes e infraestrutura, Camilla Dolle, head de renda fixa, e Regis Cardoso, head de óleo, gás e petroquímicos. O grupo mapeou riscos e oportunidades em crédito corporativo.
Pedro Bruno manteve recomendação de compra para a Simpar (SIMH3), com preço-alvo de R$ 8,00 por ação até 2026 — potencial de alta de cerca de 60%. A companhia, disse ele, busca reduzir endividamento por meio de disciplina de preços, corte de custos e desinvestimentos.
Regis Cardoso segue positivo para óleo e gás, projetando o Brent entre US$ 65 e US$ 70 por barril. Ele destacou a virada da Brava (BRAV3), que gerou caixa positivo no segundo trimestre, e o momento difícil da Braskem, com prejuízo líquido de R$ 267 milhões no mesmo período. “Estamos em um ciclo de baixa longo e profundo nos petroquímicos. Há chance razoável de capitalização para preservar a indústria”, afirmou.
Antes de investir em crédito privado, os especialistas recomendam adequar a estratégia ao perfil, prazo e tamanho da posição. A XP sugere evitar exposição superior a 5% em um único emissor, especialmente em papéis de maior risco. Títulos como CRIs, CRAs e debêntures não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).